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Os desafios e as perspectivas na preservação dos museus

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Durante a última semana, ocorreu a celebração do Dia Internacional dos Museus, que este ano abordou o tema "O Poder dos Museus". Apesar de sua importância cultural e na preservação da memória de um passado distante e até mesmo recente, os museus brasileiros, de modo geral, não recebem há anos o investimento necessário para manutenção de sua estrutura e acervo, o que acarreta maior risco de incêndios e danificações de seus materiais.
 
A cidade de Ouro Preto, cujo centro histórico é formado em grande parte por estruturas seculares, ressaltando a história em diversas esquinas do município, também enfrenta diversos desafios de preservação frente ao tempo e às condições climáticas. Vale destacar que a cidade é tombada como Patrimônio Mundial desde 1980 pela Unesco. Da mesma forma, a cidade de Mariana, que tem seu centro histórico tombado pelo Iphan desde 1945, enfrenta, em diversos setores, as mesmas dificuldades de garantia de manutenção dos acervos em condições adequadas.
 
Para além de realizar exposições, os museus guardam a história e contribuem para a formação de toda a sociedade. A documentação dos inúmeros itens culturais e históricos dos museus é fundamental para que a população possa ter conhecimento sobre outros povos, etnias e religiões. Os museus representam muito mais do que acervos e documentos, eles podem significar uma transformação para a sociedade.
 
Para discutir sobre as políticas voltadas à manutenção desses elementos históricos e sobre as novas possibilidades para o espaço museológico, o Em Discussão desta semana conversa com o professor Gilson Antônio Nunes, coordenador do curso de Museologia da UFOP.
 
Atualmente, o país conta com uma Política Nacional de Museus cujo texto prevê "promover a valorização, a preservação e a fruição do patrimônio cultural brasileiro". A política tem sido realmente adotada e se mostrado efetiva quanto ao que se propõe?
 
Apesar de se constituir como uma política de Estado, contando com um marco legal (Estatuto de Museus - Lei nº 11.904/2009) e um órgão executor dessa política (Instituto Brasileiro de Museus – Ibram - Lei nº 11.906/2009), os programas e ações naturalmente ficam condicionados às diretrizes da gestão governamental, e neste momento há falta de recursos orçamentários e prioridade para a área cultural, o que naturalmente afeta o desempenho da Política Nacional de Museus.
 
Nos últimos anos houve incêndios em importantes espaços de preservação da memória brasileira, como o Museu Nacional do Brasil, em 2018, e a Cinemateca Brasileira, em 2021. Esses casos podem refletir o modo como o assunto é tratado no país pelas autoridades que são responsáveis pelas políticas de preservações desses locais?
 
Certamente. Um país que permite que um acervo com a relevância do Museu Nacional da UFRJ acabe em cinzas é um país sem compromisso não só com seu passado, mas principalmente com seu futuro. O Brasil está assim sem um projeto de nação, e isso se traduz pela diminuição de investimento no setor de museus e memória.
 
Embora esses espaços representem a história construída ao longo de anos, décadas e séculos, além de representar diversas culturas, nos últimos dois anos os repasses de recursos federais aos museus caíram cerca de R$ 13 milhões. Diante desse cenário, quais são os riscos que os museus e seus acervos podem enfrentar?
 
Os riscos com a falta de recursos e as dificuldades de manutenção dos museus, de seus prédios e a falta de técnicos são a degradação de seus acervos e até mesmo a ocorrência de algum novo e evitável acidente. A Política Nacional de Museus prevê inclusive a realização de editais públicos para financiamento e modernização dos museus, mas sua última edição foi em 2018.
 
Na semana passada foi celebrado o Dia Internacional dos Museus. Qual a importância de a população frequentar esses espaços e como o cidadão pode contribuir para que os museus e outros locais de preservação da memória sejam conservados corretamente?
 
A vigésima Semana Nacional de Museus traz o tema "O Poder dos Museus". Esse poder é o de serem espaços de educação e memória, possibilitando a transformação da sociedade, quando esta tem acesso a essas instituições.
 
Com sua intensa carga cultural, que são desenvolvidas por diversas pessoas de diferentes partes do mundo, os museus podem contribuir de alguma maneira para o combate a preconceitos e ideias retrógradas enraizadas nas sociedades?
 
Cada museu possui uma missão, um objetivo específico. Assim, tanto podem ser instituições usadas para reforçar preconceitos como para combatê-los. Assim como a mídia, por exemplo, os museus não são neutros, e suas práticas e exposições refletem diferentes posições
 
Com o avanço das tecnologias, diversos museus espalhados pelo mundo já adotam acervos digitais que podem ser acessados online. Esse movimento de adesão à Internet pode ser mais uma forma de assegurar a preservação dos museus e das memórias contidas nesses espaços?
 
A Internet abriu mais um canal de mediação com o público. Existem os museus virtuais, cuja principal, senão única, forma de interação com o público é o ambiente virtual da Internet. Mas a ampla maioria das instituições possui acervos físicos a serem preservados, pesquisados e apresentados para o público. Essa apresentação se dá por meio das exposições presenciais, mas também pelas virtuais, ou pela disponibilização de informações sobre o acervo, até mesmo banco de dados, pela Internet, sem esquecer a interação com público pelas redes sociais. Existem ainda iniciativas de virtualização das coleções, em que objetos são escaneados em três dimensões, modelados e disponibilizados para o público. Mas são recursos adicionais para a pesquisa sobre as coleções e que não dispensam o cuidado com os acervos originais.
 
A cidade de Ouro Preto abriga dezenas de museus e casarões históricos. Este ano, pudemos acompanhar um desabamento que atingiu uma estrutura centenária e que, consequentemente, apagou parte da história construída na cidade. Dadas as condições das casas históricas, dos museus e as condições geográficas do município, as medidas que têm sido tomadas são suficientes para preservar esse patrimônio?
 
Para evitar esses desastres existem iniciativas interessantes, como o edital público que o Governo de Minas lançou em 2019 para os museus elaborarem e implementarem projetos e ações de prevenção e combate a incêndio. Mas são ações por vezes isoladas e sem continuidade, que claramente não dão conta do passivo. Como em toda política pública séria, é necessário a continuidade, inclusive de investimentos, mas esse não é o cenário que assistimos, infelizmente.
 
EM DISCUSSÃO - Esta seção é ocupada por uma entrevista, no formato pingue-pongue, realizada com um integrante da comunidade ufopiana. O espaço tem a função de divulgar as temáticas em pauta no universo acadêmico e trazer o ponto de vista de especialistas sobre assuntos relevantes para a sociedade.
 
Confira todas as entrevistas publicadas.  
 

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