Criado por Lígia Souza em sex, 17/11/2023 - 17:49 | Editado por Patrícia Pereira há 10 meses.
O ideal seria que vivêssemos em um país com maior justiça social. Que a cor da pele, a origem e outras características não determinassem as formas de tratamento e o acesso às oportunidades. Ideal seria que a nossa história contivesse apenas relatos de harmonia e desenvolvimento de uma nação potente, como é o Brasil. Também seria ideal que não precisássemos ter um dia e um mês específicos para refletirmos sobre os efeitos de um processo de escravização e de posterior negligência. Infelizmente, o ideal está muito longe da nossa realidade!
Neste Novembro Negro e Dia da Consciência Negra, reiteramos a necessidade de refletirmos sobre as desigualdades contidas no processo de formação do país que somos hoje. Não podemos tratar o sequestro e escravização de pessoas trazidas da África como um fato superado e congelado no passado. Não podemos considerar adequada a falta de políticas para restabelecimento das pessoas que foram libertas, ainda mais quando comparada com o apoio e os benefícios dedicados aos europeus no processo imigratório. Não podemos fingir que as características físicas das pessoas não são facilitadoras, em alguns casos, ou causadoras de reações agressivas e de opressão, em outros.
A entrada de estudantes para os cursos de graduação da UFOP neste semestre 2023.2 sinaliza um futuro melhor. Mais da metade das 1.223 matrículas (52,49%) são de pessoas pretas e pardas, de acordo com a autodeclaração. Diferentemente de outras épocas, essas pessoas estão tendo a oportunidade de ter uma formação de nível superior, o que até bem pouco tempo era impensável para a maioria delas. Em parte, esse efeito é resultado da Lei de Cotas, renovada recentemente, que estabelece prioridades no acesso às vagas das instituições federais de ensino superior para estudantes egressos de escolas públicas, tendo, dentro desse segmento, também uma reserva voltada para pretos, pardos, indígenas e quilombolas.
Esse passo, ainda pequeno, deveria ser mais acelerado para ter impactos mais efetivos na nossa sociedade, em especial, na nossa Universidade. Mesmo sendo a maioria da população, pretos e pardos não têm presença maciça nos cargos de docência. Da mesma forma, essa disparidade é verificada em outras carreiras profissionais, na eleição de representantes políticos, nos cargos de gerenciamento das empresas e em diversos outros segmentos. A população negra é a minoria nos postos de maior bonificação financeira e maioria na outra ponta, em ocupações com baixos salários. A mesma diferenciação é verificada em outras situações, sempre pesando negativamente para o mesmo segmento.
Entendendo o papel da Universidade neste contexto, reiteramos nosso compromisso em continuar buscando encaminhamentos que possam dar continuidade ao progresso verificado e ampliar as ações de apoio, inserção e ascensão de pessoas pretas e pardas, dentro e fora do ambiente acadêmico. Antes de reconhecer a nossa igualdade, precisamos reconhecer a desigualdade existente na nossa sociedade. Somente um olhar e uma postura empática nos darão condição de avançar como humanidade, reconhecendo os erros do passado e nos mobilizando no presente para, um dia, podermos vivenciar um futuro mais justo e igualitário. Que seja um momento de reflexão e avanços este Novembro Negro e Dia da Consciência Negra!
Cláudia Aparecida Marliére de Lima
Reitora
Hermínio Arias Nalini Júnior
Vice-reitor