Com: Gabriel Ferreira e Stanley de Oliveira
Reunindo docentes, técnicos e estudantes, o Encontro de Saberes 2025 teve sua abertura no Teatro Ouro Preto, no Centro de Artes Convenções da UFOP. A cerimônia marcou o início de três dias de atividades voltadas à troca de experiências sobre ensino, pesquisa e extensão.
Ao dar as boas-vindas, a pró-reitora de Extensão e Cultura, Claudia Martins Carneiro, ressaltou a importância da relação entre Universidade e comunidade. "O Encontro de Saberes é a materialização de uma UFOP que a gente acredita e que pulsa para além dos nossos muros, tentando ir ao encontro à comunidade. É nesse evento que o ensino, a pesquisa e a extensão se encontram para dialogar", afirmou.
O reitor Luciano Campos definiu o evento como uma defesa da universidade pública. "Realizar o Encontro de Saberes é um ato de resistência. É dizer que a universidade precisa estar viva, ocupada e que a formação vai além do conhecimento acadêmico, passa também pela arte, pelo esporte, pela convivência."
Também estava presente o pró-reitor de Assuntos Comunitários e Estudantis, Heber Eustáquio de Paula, que lembrou a importância das políticas de permanência para a transformação social. "As políticas de assistência estudantil são fundamentais para uma universidade que quer transformar. É o esforço de cada um que coordena essas ações que permite apoiar as trajetórias dos nossos estudantes, permitindo que a nossa Universidade de fato transforme vidas."
A pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Paula Cristina Mendonça, destacou a convergência entre o tema do evento e as diretrizes do novo Plano Nacional de Pós-Graduação (2025-2029). "A ampliação da formação de mestres e doutores deve estar voltada à solução dos problemas da sociedade. A extensão, ao aproximar o conhecimento científico das demandas sociais, amplia o impacto dos programas de pós-graduação e reforça o compromisso das universidades públicas."
Já a pró-reitora de Graduação, Marlice Nogueira, ressaltou o papel das pessoas na construção do conhecimento. "Para conectar saberes, é preciso ter pessoas. São elas que dão sentido à universidade e tornam possíveis os encontros e as descobertas que acontecem aqui."
Também compuseram a mesa de abertura do evento a vice-reitora, Roberta Froes, e o diretor de Relações Internacionais, Anderson Antônio Gamarano. Após as falas de abertura, o professor Hélder Eterno da Silveira, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), doutor em Educação (MEC) e integrante do Conselho Superior do Programa de Educação Tutorial (PET), ministrou a palestra "Extensão e Pesquisa: dimensões formadoras na pós-graduação brasileira".
Em sua fala, Hélder refletiu sobre o papel da universidade pública na formação dos estudantes e no diálogo com a sociedade. Ele afirmou que a universidade não deve só responder à demandas externas, mas participar ativamente da construção de novos horizontes: "Precisamos de um outro país, de uma outra sociedade, de uma outra universidade, fundada num outro paradigma. Parece uma luta permanente e eterna. Talvez vai ser a luta da sua história, como isso tem sido a luta da minha."
As atividades de abertura foram encerradas com Duzão Mortimer e Marcos Pimenta apresentando "Canções em parceria com Marcelo Dolabela e Edwaldo Zampier".
SEMINÁRIO SOCIOAMBIENTAL - Nesta edição, o Encontro de Saberes contou com o seminário “Perspectiva Socicambiental dos 10 Anos de Rompimento da Barragem de Fundão no Alto Rio Doce”. Composto por quatro rodas de conversa, o espaço possibilitou o diálogo entre as comunidades atingidas, assessorias, pesquisadores, promotorias e educadores para fortalecimento nas tomadas de decisão, referentes às violações e reparações no Alto Rio Doce.
Durante o seminário, a apresentação cultural da Comunidade Quilombola de Gesteira também foi destaque. Embalada com músicas de valorização das tradições da terra, a performance arrebatou o público da conferência. Diante de toda a tradição histórica das mulheres do quilombo, o palco do auditório se apequenou. Ao fim do espetáculo, a plateia respondeu com aplausos calorosos.
Marli Gomes, integrante do quilombo, destacou a importância da celebração: "É uma sensação maravilhosa estar aqui, porque é uma oportunidade que a gente tem de mostrar o nosso talento e falar da nossa história".
Além disso, ela ressalta o impacto das apresentações no bem-estar das integrantes: "A gente tá muito feliz. Muitas pessoas do nosso grupo pararam de tomar remédio depressivo, de ficar só em casa. Agora a gente sai e expõe a nossa cultura".
O grupo quilombola se apresentou no intervalo da mesa "As lutas sociais e ambientais em território atingidos pela mineração: a importância das ATIs nesse contexto", que debateu os impactos da mineração na Região dos Inconfidentes. A mesa contou com falas de especialistas e relatos emocionados de atingidos pelo desastre. O auditório, localizado no Centro de Convenções, em Ouro Preto, ficou lotado.
Estudantes, professores e representantes da comunidade local acompanharam com atenção e sensibilidade os discursos que vinham do palco. Manoel Marcos Muniz, um dos atingidos, foi o primeiro a falar. Com a voz embargada, lembrou: "Eu era conhecido dentro de Bento Rodrigues como 'Marquinho' das frutas".
Atrás da mesa onde discursava, compondo o cenário do auditório, uma enorme bandeira pintada à mão registrava: "10 anos de crime e impunidade. Até quando?". Este ano, o rompimento da Barragem de Fundão completou uma década.
ENCERRAMENTO - Ao longo de três dias, a comunidade acadêmica expôs trabalhos com apresentações, palestras e rodas de conversa sobre ciência, inovações, criações artísticas, atividades de extensão e assuntos comunitários. Ao todo, mais de 1.500 trabalhos foram apresentados, distribuídos entre as mostras da Pós-Graduação, Iniciação Científica, Pet, Pibid, Pidic, Prodesa e Proex-PG.
Graduanda do curso de Biologia, Stela esteve presente no evento representando as coleções biológicas da UFOP no estande que apresentava os projetos da Tenda de Zoologia, Circuito Saber e Ciência e Animais Peçonhentos. Ela relata que os projetos têm como objetivo a conscientização dos jovens sobre o comportamento e classificação dos animais, sendo uma importante ferramenta de divulgação da própria Universidade.
"É uma ótima oportunidade de divulgação para as pessoas saberem o que tem de projeto na UFOP, para conhecerem além das aulas. Aqui é onde apresentamos as oportunidades que os alunos têm de crescimento em pesquisa dentro da UFOP", afirmou.
Já a estudante do curso de Engenharia de Produção Júlia representou o projeto Mulheres de ASAS — parceria entre Proex, UFOP e Associação das Senhoras Artesãs de Ouro Preto — e falou sobre a importância da ocupação deste espaço por meio da arte para a comunicação com a comunidade ouro-pretana.
"É importante aproximar os alunos da população ouro-pretana para mostrar o que a gente faz com a Universidade e quais são as ferramentas que a Universidade dá para a gente devolver pro público em geral. Eu acho que é superimportante também ter um evento como esse para aproximação entre os cursos, poder ver o impacto que eles geram na Universidade e na pesquisa, então é muito interessante conhecer mais sobre o trabalho deles também", completou.
Durante a cerimônia de encerramento, Cláudia Carneiro, pró-reitora de Extensão e Cultura, destacou os trabalhos das mostras de Pós-Graduação e Iniciação Científica mais bem avaliados e também as menções honrosas. Por fim, a pró-reitora ressaltou o compromisso da Instituição em ser um espaço de escuta e justiça e o compromisso com reparação e memória.
Ela ainda mencionou que a temática da edição se tornou uma realidade durante os dias de evento. "Vimos a extensão em sua plenitude, conectando pesquisas de ponta às necessidades mais urgentes da região. Como mensagem final, pensando no tema deste ano, eu espero que seja só o começo de uma grande transformação, sendo uma jornada contínua", finalizou Cláudia.