Em seu 20º ano, o Cine OP – Mostra de Cinema de Ouro Preto reafirma seu papel na luta pela preservação não só do patrimônio histórico da cidade, mas também do cinema brasileiro. O evento demonstra como a cidade está engajada em causas culturais e se consolidando como polo de cultura, educação e patrimônio. Com o tema central "Preservação: a Alma do Cinema Brasileiro", a edição comemorativa celebra as duas décadas de uma trajetória dedicada à memória audiovisual, à reflexão crítica sobre a história do cinema nacional e à formação de novos públicos e educadores.
Na última sexta-feira, dia 27, ocorreu a mesa de abertura do 20º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e do Encontro da Educação, cujo tema foi "Preservação e educação: a alma viva do cinema brasileiro". Na oportunidade, foram abordados os diversos desafios que se apresentam para a melhoria da qualidade da educação, com foco na integração da produção audiovisual e nos caminhos para a preservação desses elementos como memória, ensinamento e patrimônio cultural.
As discussões, mediadas pela professora e pesquisadora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Laura Bezerra, envolveram o público e convidados renomados como Cesar Callegari, presidente do Conselho Nacional de Educação; Durval Angelo, conselheiro presidente do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG); Jandira Feghali, deputada federal; Joelma Gonzaga, secretária Nacional de Audiovisual do Ministério da Cultura (MinC); Luciano Campos da Silva, reitor da UFOP; e Paulo Alcoforado, diretor da Agência Nacional de Cinema (Ancine).
A mediadora Laura Bezerra ressaltou a importância dessa preservação não apenas para a cultura, mas também para a economia do país. "Nossa cultura perde sem a preservação audiovisual", assim como "nossa economia", complementou, destacando uma interconexão que muitas vezes passa despercebida. Segundo ela, os investimentos feitos na produção nacional refletem o potencial criativo do Brasil, mas esses esforços se tornam insuficientes quando a população não tem acesso aos produtos culturais gerados. A mediadora explicou que os filmes e documentários são fontes valiosas de conhecimento e conscientização e que a falta de acesso a essas obras representa uma perda significativa. "É uma perda enorme na esfera do simbólico e uma perda enorme na esfera do econômico", arrematou.
Em sua fala, o conselheiro presidente do TCE-MG, Durval Angelo, destacou a importância de Ouro Preto para o audiovisual, lembrando ser "uma vitória ter uma cidade com ancestralidade tão forte sediando um evento tão notório". Ele também mencionou o programa TCE Cultural como mecanismo de incentivo aos artistas e à cultura local. Nesse sentido, informou que "o Tribunal tem investido em atividades culturais e em auxiliar os agentes no cumprimento das leis de fomento e nas prestações de contas".
CURSO - Em seguida, o reitor Luciano Campos leu uma carta manifestando o interesse da Universidade em criar um Bacharelado em Cinema e Audiovisual com foco em preservação. Ele destacou que a UFOP reforça seu compromisso com as comunidades onde possui campi (Ouro Preto, Mariana e João Monlevade) por meio de ações como palestras e cineclubes, democratizando o acesso à cultura.
Luciano ressaltou que Ouro Preto, com sua arquitetura colonial preservada, já atrai produções audiovisuais, e defendeu que o novo curso contribuirá significativamente para a preservação do cinema brasileiro. Essa iniciativa, segundo ele, trará retornos relevantes tanto para a Universidade quanto para as comunidades regionais.
Demonstrando o compromisso da Ancine com a preservação audiovisual, Paulo Alcoforado anunciou a criação de uma agência regulatória pública. O órgão terá como atribuições regularizar, fiscalizar e fomentar o mercado audiovisual.
A representante do MinC, Joelma Gonzaga, destacou a importância da comemoração dos 40 anos do Centro Técnico Audiovisual (CTAV) para o fortalecimento do setor. Ela definiu o CTAV como "uma instituição fundamental para a história do audiovisual brasileiro, que ao longo de quatro décadas tem sido espaço de formação, produção, circulação e preservação", reafirmando seu compromisso como polo de inovação pública e apoio a realizadores e educadores. Gonzaga também falou sobre a Lei nº 13.006, por meio da qual o Ministério da Educação reconhece o cinema nacional como recurso formativo essencial para as crianças brasileiras. Nesse contexto, ela ressaltou o lançamento da plataforma de streaming "Telebrasil" como uma ferramenta de aplicabilidade nas escolas.
César Callegari (CNE) ampliou a discussão sobre preservação afirmando que, "quando se trata de preservação associada à mobilização, não se trata apenas de guardar, trancar ou proteger", uma vez que "a efetiva preservação ocorre no processo de mobilização, circulação e 'contaminação' da sociedade pelo processo criativo". Ele reforçou o compromisso de integrar a arte à educação, tanto formal quanto informal, defendendo que as diretrizes curriculares devem fomentar o pensamento crítico e artístico para promover a permanência dos alunos no sistema e a necessidade de alinhamento entre educadores e governos na melhoria do ensino.
Encerrando o debate, a deputada federal Jandira Feghali destacou a relevância de se discutir o poder político da arte e da cultura na formação da visão de mundo e da autoimagem da sociedade. "O cinema precisa ser incorporado à estrutura de aprendizagem não como mero conteúdo pedagógico, destinado a educar ou deseducar, mas como elemento capaz de criar rebeldia, pensamento crítico e a possibilidade de enfrentamento e resistência", declarou.