O curso de Música da Universidade Federal de Ouro Preto prestou homenagem ao compositor Rufo Herrera, de 92 anos, durante a III Semana de Música. Argentino radicado no Brasil, ele é compositor, bandoneonista e educador musical. Rufo ministrou aulas na Instituição como professor convidado por 25 anos e já havia recebido o título de Doutor Honoris Causa.
Realizada na última semana, a homenagem teve como objetivo preservar a memória de sua trajetória na UFOP e reconhecer sua relevância para o curso de Música e para a cena musical brasileira. O evento reuniu alunos, professores, amigos e ex-alunos de Rufo, que compartilharam histórias e reviveram momentos que passaram juntos, como os Festivais de Inverno e até mesmo quando o professor ia prestigiá-los tocar e cantar em eventos da cidade.
O professor do curso de Música, Guilherme Paoliello, relatou que dá para perceber como Rufo Herrera é querido pela maneira como é aplaudido em seus concertos, sempre de forma muito vibrante. "Ele deixa marcas não só pela música que fez, mas também pelas aulas que ministrou e pelas pessoas que ajudou a formar", completou Guilherme.
TRAJETÓRIA - O evento foi um momento marcante para Rufo, que fez questão de destacar que não construiu sua trajetória sozinho. Ele lembrou do apoio fundamental dos servidores da época, que sempre estiveram ao seu lado. Recordou ainda as dificuldades enfrentadas no início: "todas as coisas eram muito difíceis no começo. Tudo era precário demais." Rufo também ressaltou a importância do vínculo com os estudantes: "todos os alunos sempre acabavam se tornando amigos. Primeiro vinham como amigos, depois vinha todo o resto."
A programação contou ainda com duas apresentações musicais. O doutorando da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Giuliano Coura, interpretou, no violão, uma das composições de Rufo, e Otto Hanriot, amigo e ex-aluno, executou no bandoneon a obra "Suíte Austral", também do compositor, inspirada no som das rodas dos carros de boi que cruzavam os pampas argentinos, remetendo à terra natal do compositor. Rufo acompanhou as apresentações com atenção e emoção.
Para Giuliano, participar da homenagem foi uma honra. Em sua tese de doutorado, ele pesquisa a presença do violão na obra de Herrera e, por causa dessa investigação, estreitou laços com o compositor, chegando a dividir o palco com ele. "Onde quer que ele passe, ele deixa alguma marca, tanto nos Festivais de Inverno quanto na Fundação de Educação Artística", afirmou.
A mestranda do curso de Música da UFOP, Gabriela Sánchez, também desenvolve pesquisa sobre a obra do compositor, analisando sua visão sobre a relação entre música e teatro na formação de atores. Para ela, o legado de Rufo vai além da técnica e da metodologia, "ele traz para a gente uma outra ideia, uma relação diferente, essa criação de paisagens que ele tem nas composições". Ela também acredita que "entender a música é muito além da nota e do som emitido".
VIDA DEDICADA À MÚSICA - Rufo Herrera foi um dos fundadores da Orquestra Ouro Preto, ao lado do professor e maestro Ronaldo Toffolo. Chegou a Ouro Preto em 1976, durante o Festival de Inverno, e se encantou pela cidade. Desde então, retornava com frequência para participar do evento. "Eu me sentia um cidadão daqui, um filho daqui. Fui tratado como um filho", recordou. Segundo ele, essa acolhida despertou o desejo de fixar laços mais profundos com a cidade: "Senti vontade de trabalhar aqui porque via que era um lugar que inspirava muita coisa. A música barroca mineira é um exemplo disso".
Rufo construiu toda a sua vida em torno da música e reforçou a importância dessa trajetória, iniciada aos 11 anos. "Eu vivi da música, não de outro trabalho. Só fiz música." Segundo ele, foram décadas se apresentando em diferentes países e compartilhando ensinamentos por onde passava. "Tocava em festa de padroeira, em festa de escola, em programa infantil de música folclórica. Fui tocando, tocando, tocando... e depois fui de país em país, sempre ensinando também."