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Celebrar a diversidade, mesmo na adversidade

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A sigla abrevia múltiplas expressões de sexualidades e de identidades de gênero e se destina a promover politicamente a representação da diversidade, desde a década de 1970. Em 28 de junho celebramos, em diversos países, o Dia do Orgulho LGBTQIA+ e nos lembramos, também, das séries de manifestações lideradas por pessoas da nossa comunidade e frequentadoras do bar Stonewall In, sobretudo pessoas transexuais e travestis, contra a violência policial na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.
 
Segmentações do movimento LGBTQIA+ entendem que a presença das letras garante não apenas visibilidade, mas a necessidade de se pautar políticas públicas que atendam às demandas de populações diferentes – e historicamente marginalizadas, principalmente no que diz respeito ao acesso e atendimento digno ao sistema público de saúde e à permanência na escola, ainda nos níveis fundamental e médio. Vale ressaltar que a sigla tem sido adaptada, é resultado de discussões dentro da própria comunidade, e outras versões existem.
 
Por ora, é possível dizer que a sigla LGBTQIA+ traz as representações de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis, queer – termo inglês que representa pessoas “questionantes” ou que não se identificam com o padrão cisheteronormativo – intersexo, pessoas assexuadas, e, finalmente, o símbolo “+”, que pretende abarcar todas as expressões, de sexualidade e gênero, que porventura se encontrem fora da sigla.    
 
Neste ano, abrimos espaço para diversos relatos de estudantes para responder à seguinte questão: por que é importante celebrar o Dia do Orgulho? Confira as respostas abaixo:
 
CASSIA DURETTI é estudante de Museologia. Se identifica como mulher cis e lésbica: "A falta de informação sempre gerou preconceito e violência.  Durante toda a vida pessoas LGBTQIA+ sofrem com a falta de representatividade, como se de fato não existissem. Um exemplo disso é que a homossexualidade só deixou de ser tratada como doença pela Organização Mundial da Saúde em 1990 e a transssexualidade, apenas em 2018. É chocante pensar que a existência de alguém só foi reconhecida institucionalmente há dois anos. O orgulho, o SER  mantém as pessoas vivas; a representatividade e a resistência permitem o existir; não só seu, mas de toda a comunidade, principalmente os que estão chegando agora. A visibilidade lésbica neste movimento, que é um movimento muito hierarquizado — pois a comunidade faz parte de uma sociedade estruturalmente machista, cisnormativa, racista, heteronormativa etc — nos protege, e não foi a toa que nos tornamos a primeira letra da sigla".

VIVIAN SOUZA é estudante de Artes Cênicas (licenciatura). Se identifica como mulher trans: "Pensando na importância de ser comemorado o Dia Do Orgulho LGBTQIA+ me lembrei de 2018, quando eu estava com muito medo de declarar meu novo nome para as pessoas e um médico me disse ‘o que adianta tantas pessoas terem lutado para você ter seu direito de ser quem você é, e você com medo. Já pensou se dependesse de você para as pessoas trans terem seus direitos?’ Foi um sentimento de agradecimento pelas pessoas que lutaram pela causa, uma certa força que ganhei naquele momento e consegui perder um pouco o medo de compartilhar meu nome social. Então, creio que um dos motivos seja o de lembrar que muitas pessoas lutaram para que hoje muitas outras possam se declarar como realmente são".

GABRIEL FIGUEREDO MELO é estudante de Jornalismo. Se identifica como homem cis e gay: "Antes de tudo, é necessário celebrarmos o orgulho LGBTQIA+ para manter viva a memória e luta de todas aquelas que vieram antes de nós: travestis e transexuais pretas e latinas que estiveram na linha de frente dos primeiros movimentos reivindicatórios. De lá para cá, a custo de muita luta, conquistamos direitos e espaços jamais imaginados para nossos corpos. No entanto, os avanços são desiguais dentro da própria comunidade, tendo em vista que transexuais e travestis, com expectativa de vida de aproximadamente 35 anos no Brasil, ainda batalham arduamente para serem reconhecides enquanto pessoas. Por isso, é importante aproveitarmos a visibilidade do mês do orgulho LGBTQIA+, para que possamos desconstruir a visão marginalizada da comunidade, especialmente transexuais e travestis. Quando bolsista da extensão Vidas: gênero, diversidade e sexualidades, vi de perto a importância que projetos como este exercem diariamente na naturalização dessas identidades. A Universidade, enquanto espaço de tensões e disputas sociopolíticas, tem como obrigação incentivar e buscar meios para que a diversidade não seja repreendida".

ARIANNE AZEVEDO é estudante de História (licenciatura). Se identifica como mulher cis e lésbica: "Há cinco anos, quando me descobri lésbica, existia um pavor aterrorizante acerca do que eu iria enfrentar nos espaços privados e públicos. Faltaram referências na minha infância sobre mulheres lésbicas, que não fossem sexualizadas. Depois os questionamentos se estendiam para o porquê de precisar me esconder. Mesmo depois de tantos avanços, alguns retrocessos permanecem: não podemos demonstrar afeto em público. Aqueles que impedem mulheres transsexuais de viverem mais que 35 anos no Brasil. Aqueles que fazem com que jovens sejam expulsos de seus próprios lares e sejam agredidos por quem deveria acolher e proteger. Muito ainda é esperado e necessitado por nós, como a capacitação de profissionais nos ambientes escolares no combate à LGBT+fobia e a adição de matérias acerca de gênero e sexualidade a todos os cursos acadêmicos. E também de questionar a posição de pessoas com deficiência, pretas e indígenas dentro desses grupos e torná-los parte das lideranças. O Dia do Orgulho é uma data comemorativa para lembrar e afirmar nossa brava resistência diária".

PABLO MORAIS é estudante de Arquitetura e Urbanismo. Se identifica como queer: "Celebrar o Dia do Orgulho é poder dizer que mais um dia resistimos numa sociedade na qual o afeto não-heteronormativo ainda é censurado, violentado, apagado. Na qual não gozamos ainda da total liberdade de dar as mãos ou beijar na rua a pessoa amada. Na qual, ainda que a cultura popular comece a tolerar nossas existências, a tolerância não é igualmente oferecida aos diversos espectros que a sigla LGBTQIA+ comporta. Me identifico como queer. Essa palavra, que no inglês já foi uma gíria ofensiva, foi por nós ressignificada para celebrar nossa “excentricidade”, essa “estranha” qualidade de não nos encaixarmos nos padrões impostos de gênero e sexualidade. Entendo em mim o ser queer como a coexistência do masculino e do feminino nos vários aspectos da minha identidade, características essas bastante reprimidas por longos anos de minha vida. Felizmente, dentro do curso, encontrei um ambiente acolhedor, onde pude me expressar com mais fluidez e onde encontro apoio de amigos e professores. Onde encontro insumos para que, em minha trajetória como arquiteto, artista e pesquisador, eu possa lutar pela ocupação cada vez mais presente e respeitada de nossos corpos queer nos diversos espaços".
 
THAYNÁ DE CARVALHO SILVA é estudante de Pedagogia. Se identifica como mulher cis e bissexual: "O Dia do Orgulho LGBTQIA+ é uma afirmação de que essa diversidade minoritária existe, é um momento para honrar o que somos mesmo diante da repressão diária. É um dia para dizer a si e ao mundo que não é errado amar como se ama, se vestir como se veste, se identificar como se identifica, ser como se é. Um dia para abrir as portas do armário, sacudir a poeira e assumir quem você é. É mais um dia de luta porém mais que isso, um dia para nos lembrar por que estamos lutando".

DANIEL SILVA é mestrando em Ciências Biológicas. Se identifica como homem cis e gay: "Acho curioso termos a necessidade de celebrar o orgulho de um aspecto tão natural da experiência humana como a diversidade sexual e de gênero. Como biólogo e professor de ciências, estudei comportamento animal por alguns anos e digo que, enquanto sociedade, temos muito a aprender com os demais animais tal como os cisnes, girafas e até o nosso charmoso boto-cor-de-rosa, os quais expressam a homossexualidade e bissexualidade tão espontaneamente. O preconceito que, ao contrário da diversidade sexual, não é natural e sim construído, torna tão importante termos orgulho de ser quem realmente somos mesmo quando isto põe nossa vida em risco. Mais do que levantar uma bandeira colorida, é fundamental que todos nós lutemos pra construir políticas públicas e também ciência que faça valer o respeito pela Natureza que se expressa em nós. Por causa disso, atualmente estou no mestrado em Ciências Biológicas na UFOP investigando o desenvolvimento e detecção de câncer anal, cuja maior incidência está na população LGBTQIA+. O caminho é longo mas o que importa não é o destino, mas sim nossa jornada até lá".
 

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