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Pesquisa da UFOP aponta benefícios do açaí para a saúde humana

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Ana Elisa Siqueira

O açaí é a base da alimentação paraense e já se tornou item comum na dieta dos demais brasileiros e turistas estrangeiros. Muito se fala sobre seus benefícios, porém, são poucos os estudos que avaliam esses efeitos. O grupo Nutrição e Genômica Nutricional (Nutrigen), liderado pela professora da Escola de Nutrição da UFOP (Enut), Renata Nascimento de Freitas, desenvolve pesquisas sobre os efeitos do açaí na saúde humana.

Além da professora Renata, as professoras Ana Carolina Pinheiro Volp e Melina Oliveira de Souza fazem pesquisas com o objetivo de verificar cientificamente os supostos efeitos benéficos do açaí à saúde humana. Em uma das linhas de pesquisa, buscam identificar os efeitos da fruta sobre o estresse oxidativo. Elas pretendem avaliar se o açaí tem algum efeito sobre os marcadores desse quadro, que decorre de um desequilíbrio entre a produção e a remoção de radicais livres. Esse desequilíbrio provoca uma agressão ao organismo que não é detectada clinicamente, mas que pode desencadear doenças quando aliada a outros fatores, como dieta, falta de atividade física e fatores ambientais.

Os estudos com açaí começaram em 2007, durante o mestrado de Melina, que foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas sob orientação da professora Maria Lúcia Pedrosa. Nessa pesquisa, usando modelo rato, observou-se que o açaí atua reduzindo o colesterol ruim (LDL) e aumentando o bom (HDL). O interesse surgiu a partir de uma reportagem sobre o aumento na exportação do açaí e seu objetivo era verificar se o açaí tem propriedades funcionais indicadas para consumo, especificamente sobre o colesterol ou em nível antioxidante.

Alguns alimentos ricos em compostos fenólicos, como é o caso do açaí, têm propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, e o grupo investiga se o açaí também possui essa particularidade. A professora Ana Carolina já trabalha com os marcadores de processos inflamatórios e, atualmente, dedica-se à investigação dessas características no açaí.

Para avaliar as consequências do consumo da fruta nesse quadro, a equipe realizou pesquisa com um grupo de mulheres voluntárias que consumiram uma quantidade diária razoável da polpa de açaí por quatro semanas. Pela análise do sangue das voluntárias, em estudos conduzidos pelas professoras e pelas estudantes de mestrado Priscila Oliveira Barbosa e de doutorado Daniela Pala, foram avaliados marcadores para saber se existiam muitas proteínas ou lipídeos oxidados, por exemplo. “Realmente o açaí parece melhorar o perfil oxidativo dessas mulheres. Nós observamos um aumento da atividade de enzimas que combatem os radicais livres e, por outro lado, diminuição de produtos que são gerados pelos radicais livres", explica Renata.

A pesquisa demonstrou que o açaí pode auxiliar na prevenção da aterosclerose (acúmulo de gordura nas artérias) ou reduzir danos oxidativos que podem levar a outras doenças. Após o consumo da fruta, as mulheres voluntárias apresentaram um aumento da atividade da enzima paraoxonase, que protege contra a oxidação do colesterol LDL, e a diminuição da oxidação dessa partícula de colesterol. "Podemos sugerir que o açaí tem um efeito interessante nos mecanismos iniciais que desencadeiam a doença aterosclerótica”, conclui Renata. Para confirmar os dados, ainda é necessário desenvolver estudos com pessoas que já tenham a alteração do colesterol.

ENTENDA A ATEROSCLEROSE: Estudos apontam que no processo de aterosclerose acontece a oxidação do colesterol ruim (LDL), e é essa oxidação que faz com que o processo da aterosclerose e o processo inflamatório comecem.

A aterosclerose está relacionada com os fatores de risco tradicionais: pressão alta, diabetes, colesterol elevado, tabagismo, obesidade; é uma doença frequente e, na fase inicial, não produz sintomas, portanto, o diagnóstico não é simples. Uma forma de prevenir e controlar a doença é a mudança dos hábitos alimentares e de estilo de vida (atividade física, tabagismo, etc.).

Para 2015, o grupo iniciará um estudo com animais para testar os efeitos do açaí com um modelo de doença inflamatória. Renata adianta que a doutorando Carla Teixeira irá trabalhar com artrite reumatoide, que é uma doença sistêmica crônica, ou seja, ela pode afetar diversas partes do organismo e não tem cura, podendo ser controlada.